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domingo, 23 de outubro de 2011

"ANALGESIA" Poema de Amora lido por VÓNY FERREIRA



Tão logo a morfina se faça entender,
saturado, o meu amor há de declarar-se em cinzas;
restos que arderam com a urgência do breve
e que não sofrerão o existir da história.
O coração sedado há de provar o tédio;
a dimensão funesta da analgesia;
as sombras que isolam-no do calendário;
ilhado entre o ventre e o discernimento.
A manhã se fará maquiada e fútil
e o sol não será senão uma pedra barata
que brilha, falsa, no dedo do dia.
Ao vasculhar a memória à procura de um sorriso
hei de deflagrar uma constelação de ontens,
massas sem pertinência ou antagonismo
que a mim prometerão outra finitude.
Terei composto uma maré de água morta
por cuja torrente me deixarei levar
desenganada de quaisquer cicatrizes.
Tão logo a morfina se faça entender.

(AMORA)

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