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terça-feira, 28 de maio de 2013

"A carta que nunca lerás: O perfume do lírio lila(s)"





Entrou na minha vida sem pedir licença. Distraída e desprevenida como sou, não reparei de imediato na sua presença. Ignorei. Olhei sem ver, supostamente desinteressada. Mas a sua vontade de chamar a minha atenção foi como que a dolente musica de um violino, vinda através de ondas magnéticas, de um qualquer telhado transformado incrivelmente em túmulo de pombos correio. Foi magnetismo puro. Transcendental. Indescritível…
Apenas sei que comíamos e bebíamos palavras. Amávamo-nos loucamente através delas. Geramos filhos com as palavras.
Ainda me lembro do lírio lila(s) que assinava os poemas que me escrevia, daqueles momentos mágicos em que a poesia escorria dos poros das nossas mãos. Os olhares sôfregos devoravam a distância até ficarem turvos e orvalhados de um sal que tinha sabor a mel.
Depressa esse amor se transformou em sublimação. Os dias morriam devagar inflamados pela distância, vergados pela lonjura, mas logo se clareavam ou apressavam quando as nossas vozes se uniam num ballet de borboletas acasalando sem pressa que o tempo chegasse ao fim.
Amar alguém assim é motivo de lamento?
Jamais… jamais… mesmo que tudo acabe, incompreensivelmente!
Se não tivemos amanhã nada e ninguém no pode tirar o passado feito de momentos que ainda fazem valer a pena, caminhar agora sozinha… sem ti…
Quiçá se com a alma ainda refém do que vivemos…! 


Vóny Ferreira

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